sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Eu decidi!

Eu decidi, eu vou, eu tinha que ir. E aí eu fui.
Eu fui pro mais intrínseco da minha alma. Não me peguem no braço! Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho. Eu já disse que eu sou sozinho.
Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Eu anseio com uma angústia de fome de carne
O que eu não sei o que seja
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto.
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Abram-me todas as janelas!
Arranquem-me todas as portas
Quero viver em liberdade no ar,
Quero ter gestos fora do meu corpo,
Quero correr como a chuva pelas paredes abaixo,
Quero ser pisado nas estradas largas como as pedras,
Quero ir, como as coisas pesadas, para o fundo dos mares,
Não quero fecho nas portas!
Não quero fechaduras nos cofres!
Quero que me façam pertença doida de qualquer outro,
Que me atirem aos mares
Que me vão buscar a casa com fins obscenos
Não quero intervalos no mundo
Quero que os corpos sejam uns dos outros como as almas,
Quero voar e cair de muito alto!
Ser arremessado como uma granada!

(junção de trechos de Fernando Pessoa)

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